Nas duas últimas décadas do século XVIII e nas três primeiras do século XIX, uma nova tendência estética predominou nas criações dos artistas europeus. Trata-se do Neoclassicismo (neo = novo), que expressou os valores próprios de uma nova e fortalecida burguesia, que assumiu a direção da Sociedade europeia após a Revolução Francesa e principalmente com o Império de Napoleão.
Nas palavras de Edgar Allan Poe “a glória que foi a Grécia, e a grandeza que foi Roma”.
Esse reviver do austero Classicismo na pintura, na escultura, na arquitetura e no mobiliário constituiu uma clara reação contra o enfeitado do estilo rococó.
O século XVIII tinha sido a Idade das Luzes, quando os filósofos pregavam o evangelho da razão e da lógica. Essa fé na lógica levou à ordem e às virtudes “enobrecedoras” da arte neoclássica.
O iniciador da tendência foi Jacques-Louis David pintor e democrata francês que imitava a arte grega e romana para inspirar a nova republica francesa. A Arte “politicamente correta” era séria, ilustrando temas da história antiga ou da mitologia, em vez da frivolidade rococó.
Em 1783, a mania da arqueologia varreu a Europa, à medida que as escavações em Pompéia e Herculano ofereciam a primeira visão da arte antiga bem preservada levaram ao exagero da imitação da vida grega da antiguidade chegando ao ridículo em atitudes.
A linha mestra do estilo neoclássico eram as figuras severas, desenhadas com exatidão, que apareciam em primeiro plano, sem a ilusão de profundidade dos relevos romanos. A pincelada era suave, de modo que a superfície da pintura parecia polida e as composições eram simples, para evitar o melodrama rococó. Os fundos, em geral, incluíam toques romanos, como arcos ou colunas, e a simetria e as linhas retas substituíam as curvas irregulares.
As antigas ruinas também inspiraram arquitetura. Imitações dos templos gregos e romanos se multiplicaram da Rússia à América. O pórtico do Panteon de Paris, com colunas e cúpulas coríntias, copiava exatamente o estilo romano. Em Berlim, o portão de Brandenburgo era a réplica da entrada da Acrópole de Atenas, com uma carruagem romana em cima.
Resumem-se as principais características:
- Retorno ao passado, pela imitação dos modelos antigos greco-latinos;
- Academicismo nos temas e nas técnicas, isto é, sujeição aos modelos e às regras ensinadas nas escolas ou academias de belas-artes;
- Arte entendida como imitação da natureza, num verdadeiro culto à teoria de Aristóteles;
- Estilo sóbrio, antidecorativo, linear, antissensual, volta-se ao desenho, simplicidade da natureza, nobre, sereno, histórico.
ARQUITETURA
Os fundadores da jovem ciência da arqueologia proporcionaram as bases documentais dessa nova arquitetura de formas clássicas.
Surgiram assim os edifícios grandiosos, de estética totalmente racionalista: pórticos de colunas colossais com frontispícios triangulares, pilastras despojadas de capitéis e uma decoração apenas insinuada em guirlandas ou rosetas e frisos de meandros.
Utilização de materiais nobres tradicionais como mármores, granito e madeira, e modernos como ladrilho cerâmico e ferro fundido, de baixo custo e maior funcionalidade.
Sistemas de construção simples (trilítico) ou complexos, estruturados a partir do arco de 180 graus de inspiração romana e adaptados aos modernos processos técnicos.
Tetos planos, abóbodas e berço ou de aresta emoldurada e cúpulas nas zonas centrais das construções e assentes em tambores rodeados de colunas com entablamentos circulares.
As cidades tiveram de se adaptar a essas construções gigantescas. Desenharam-se largas avenidas para abrigar os novos edifícios públicos, academias e universidades, muitos dos quais conservam ainda hoje a mesma função.
ESCULTURA
Os escultores neoclássicos foram marcados pelo rigor e pela passividade e sua produção academicista é considerada fria. Estátuas de heróis uniformizados, mulheres envoltas em túnicas de Afrodite, ou crianças conversando com filósofos, foram os protagonistas da fase inicial da escultura neoclássica. Mais tarde, na época de Napoleão, essa disciplina artística se restringiria às estátuas equestres e bustos focalizados na pessoa do imperador. A referência estética foi encontrada na estatuária da antiguidade clássica, por isso as obras possuíam um naturalismo equilibrado.
Respeitavam-se movimentos e posições reais do corpo, embora a obra nunca estivesse isenta de certo realismo psicológico, plasmado na expressão pensativa e melancólica dos rostos. A busca do equilíbrio exato entre naturalismo e beleza ideal ficava evidente nos esboços de terracota, nos quais os volumes e as variações das posições do corpo eram estudados com cuidado. O escultor neoclássico encontrou o dinamismo na sutileza dos gestos e suavidade das formas.
Quanto aos materiais utilizados, os mais comuns eram o bronze, o mármore e a terracota, embora, a partir de 1800, o mármore branco, que permitia o polimento da superfície até a obtenção do brilho natural da pele, tenha adquirido preponderância sobre os demais. Entre os escultores mais importantes desse período destacam-se o italiano Antonio Canova, escultor exclusivo da família Bonaparte, e o dinamarquês Bertel Thorvaldsen, que chegou a presidir a Accademia di San Lucca, em Roma.
PINTURA
A pintura desse período foi inspirada principalmente na escultura clássica grega e na pintura renascentista italiana, sobretudo em Rafael, mestre inegável do equilíbrio da composição.
Características da pintura:
- Formalismo na composição, refletindo racionalismo dominante;
- Exatidão nos contornos; sobriedade nos ornamentos e no colorido, pinceladas que não marcavam a superfície, dando à obra um aspecto impessoal onde predominava o desenho sobre a cor;
- Harmonia e equilíbrio do colorido.
Os maiores representantes da pintura neoclássica são:
Jacques-Louis David (1748-1825) pintor francês, foi considerado o pintor da Revolução Francesa, mais tarde, tornou-se o pintor oficial do Império de Napoleão. Durante o governo de Napoleão, registrou fatos históricos ligados à vida do imperador. Suas obras geralmente expressam um vibrante realismo, mas algumas delas exprimem fortes emoções. David demonstrou a diferença entre o velho e o novo através do contraste dos contornos retos e rígidos dos homens com as formas curvas, suaves das mulheres. Situou cada figura como uma estátua, iluminada por um feixe de luz, contra um fundo simples de arcos romanos. Com o fim de assegurar a precisão histórica, vestiu manequins com roupas romanas e fez capacetes romanos para então copiar. Por três décadas a arte de David foi o modelo oficial do que considerava ser a arte francesa e, por extensão, a arte europeia.
Jean Auguste Dominique Ingres (1780-1867) francês, pintor que foi uma espécie de cronista visual da sociedade de seu tempo. Ingres acreditava que a tarefa primordial da arte era produzir quadros históricos. Ardoroso defensor da pureza das formas, ele afirmava, por exemplo, que desenhar uma linha perfeita era muito mais importante do que colorir.
“A pincelada deve ser tão fina como a casca de uma cebola”, repetia a seus alunos. Sua obra abrange, além de composições mitológicas e literárias, nus, retratos e paisagens, mas a crítica moderna vê nos retratos e nus o seu trabalho mais admirável. Ingres soube registrar a fisionomia da classe burguesa do seu tempo, principalmente no gosto pelo poder e na sua confiança na individualidade. Amante declarado da tradição. Ingres passou a vida brigando contra a vanguarda artística francesa representada pelo pintor romântico Eugène Delacroix, contudo foi Ingres, e não o retórico e inflamado Delacroix, o mais revolucionário dos dois. A modernidade de Ingres está justamente na visão distanciada que tinha de seus retratados, na recusa a produzir qualquer julgamento moral a respeito deles, numa época em que se consumava o processo de aliança entre a nobreza e a burguesia. O detalhismo também é uma das suas marcas registradas. Seus retratos são invariavelmente enriquecidos com mantos aveludados, rendas, flores e joias.
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O aparecimento do Neoclassicismo também se deu pela ação de Winckelmann, Mengs e Piranesi que estudaram in loco as ruínas de Roma entre outras cidades, assim como as coleções do Vaticano. A partir dos estudos destas coleções, Winckelmann, arqueólogo alemão, publicou o livro História da Arte na Antiguidade (1764). Mengs e Piranesi contribuíram para o estudo das civilizações ao realizarem gravuras e pinturas dos mais importantes monumentos de Roma. Todos esses documentos foram importantes centros de informação e elementos de estudos e ensino nas Academias.
Winckelmann (1717-1768) sob a influência das descobertas de Pompeia, escreve o livro “Pensamentos sobre a Imitação das Artes Gregas” onde teoriza os princípio do Neoclassicismo. Para ele, a beleza não pode ser encontrada na natureza, porque esta é imperfeita. Por isso, o artista deve procurar “o belo ideal”, seja, a síntese abstrata de todas as belezas. Entretanto essa busca é vã, uma vez que esse ideal já foi atingido e elevado ao máximo pelos antigos gregos; a tarefa do artista é, portanto, imitar a Antiguidade. Prega ainda pela volta aos temas gregos, o abandono da ilusão de movimento nas obras de arte, assim elas se aproximariam da imobilidade majestosa das antigas estátuas. Com isso, o artista deixa de ser um criador para tornar-se um mero copista da Antiguidade.
De fato, o que Pompeia pusera à luz do dia não era a verdadeira ate clássica da Grécia, mas um classicismo romano que copiava obras gregas. As ideias de Winckelmann se impõem de tal maneira que a arte se converte numa “grecomania”, desprezando o gótico como sendo um estilo bárbaro, assim como o barroco e o rococó como estilos ligados ao poder do Ancien Régime.
Com o início das escavações de Pompeia, no início do século XVIII, começou a arqueologia moderna.
Forte influência da arquitetura neoclássica foi a descoberta arqueológica das cidades italianas de Pompéia e Herculano que, no ano de 79 d.C., foram cobertas pelas lavas do vulcão Vesúvio. A cidade de Pompeia, coberta não de lava fluída, mas de lapilli (pedaços de lava, ficando soterrada e conservada). As escavações começaram em 1748, emocionando toda a Europa, a maior parte dos objetos encontrados foi confiada ao Museu de Nápoles, hoje Museu Arqueológico Nacional de Nápoles. Depois de 1860, as escavações foram dirigidas com sucesso cada maior, pelo arqueólogo italiano Giuseppe Fiorelli (1823-1896).
Diante daquelas construções, num erro de interpretação, os historiadores de arte acreditavam que os edifícios gregos eram recobertos com mármore branco, ocasionando a construção de tantos edifícios brancos, como por exemplo, a Casa Branca nos Estados Unidos.
Outro ponto é que o classicismo de Winckelmann era evidentemente falso. Negando que as estátuas gregas tinham sido pintadas, criou uma antiguidade pálida, como de gesso, da qual todos os elementos dionisíacos e órficos de espírito grego ficavam excluídos: uma antiguidade grega bastante racional, capaz de agradar eruditos de gabinete e burgueses.
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